O corpo precisa ser marcado para que funcione. Desde o nascimento um bebê já começa a ser estimulado corporalmente. Essas marcas (carinhos, beijos, toques, afagos, higiene) vão construindo uma memória, um registro a partir das sensações que o corpo experimentou. Cada parte do corpo estimulada será uma zona erógena. Não precisa se assustar com a expressão zona erógena. Uma zona erógena é uma parte do corpo que recebeu uma estimulação e ficou marcada como um local de prazer. Assim, o corpo é um conjunto de zonas erógenas e cada um tem seu mapa, sua geografia de prazer.
As zonas erógenas estão associadas a determinadas partes do corpo: olhos, boca, ouvidos, genitais, etc. Para cada zona erógena um objeto ou mais de um, vai ser eleito para provocar novamente aquele prazer que um dia teve seu início a partir das estimulações recebidas do Outro. Uma zona erógena fica como um buraco que nunca fecha e que constantemente está pedindo alguma satisfação.
A palavra satisfação não implica necessariamente em prazer. Pode ser também que um sujeito se satisfaça obtendo um desprazer. Um exemplo: um sujeito se satisfaz quando sente uma dor ou recebe uma punição. Mas a zona erógena sempre estará pedindo novas satisfações. Até vão ocorrer momentos de prazer e alguma satisfação, mas depois vai pedir mais. Às vezes, alguns objetos que o sujeito escolhe para lhe trazer satisfação acabam provocando problemas para o corpo, até riscos sérios. Um exemplo disso pode ser uma droga ingerida.
Portanto, o corpo é um conjunto de zonas erógenas, zonas de prazer e é para provocar prazer destas zonas que as pessoas se movimentam. Pode-se dizer que tudo que se refere a satisfação do corpo é sexualidade. Nisso que é sexualidade pode estar incluído o alimentar-se, o ouvir, o ver, o cheirar, o sexo genital, o toque, etc.
A sexualidade é o próprio fato do sujeito estar vivo e possuir um corpo. Assim, uma obesidade só persiste porque tem um corpo que recebe uma satisfação no alimentar-se. É uma transa com o objeto levado à boca. É claro que essa é uma forma muito simplista de reduzir a questão da obesidade. O que quero chamar atenção é que a sexualidade é algo muito mais amplo e complexo que a redução da sexualidade à genitalidade. Ela envolve todo o corpo e as formas de obtenção de prazer/desprazer com os objetos bem como com os outros e as formas de relacionar-se com os outros e com o Outro.
A sexualidade é mais ampla que somente as questões relativas ao prazer genital
O Corpo Sexual
O corpo. A sexualidade é mais ampla. O corpo se constitui e os caminhos que vão percorrer a sexualidade serão diferentes para cada um. É bom já dizer que os caminhos da sexualidade são sempre tortuosos. Não há regra, padrão, normalidade, igualdade em pessoas diferentes. Não há ideal de sexualidade. Isso é um mito.
A sexualidade é absolutamente particular a cada sujeito, a cada corpo, a cada história e as formas de constituição para cada um são muito diferentes e sempre muito estranhas. Cada um tem suas experiências de sexualidade e de alguma forma sabe que isso diz respeito tão somente a si próprio. E muitas vezes por não poder falar acabam sofrendo as conseqüências das formas diferenciadas de constituição da sexualidade. Tudo gira em torno de uma busca de satisfação e algumas formas de obtê-la podem ser causadoras de transtornos.
Há uma certa irracionalidade do corpo na busca da satisfação, o que pode levar a situações patológicas fazendo o sujeito adoecer, quer por dar vazão a essas tendências, quer por negá-las. De uma forma ou de outra poderão surgir conflitos. As pessoas sofrem por causa daquilo que não podem dizer e as questões da sexualidade na maioria das vezes estão inconscientes, inacessíveis para aquele que as sofre.
Disse acima que não há um padrão para a sexualidade, porém, podemos falar de algumas situações a partir das queixas apresentadas. Por exemplo, alguém com um desejo de ter um contato sexual é impedida por força de pensamentos punitivos, proibitivos, censuradores, está revelando a forma com que sua sexualidade foi constituída, ou a forma com a qual ele se defende da sexualidade. Uma investigação e uma intervenção são possíveis para que ocorra uma transformação ou uma retificação na forma subjetiva de constituição dessa sexualidade.
A psicanálise não trabalha essa questão como objetivo. Seria uma decorrência do processo de análise. Existe uma lista imensa de fenômenos decorrentes da sexualidade podendo resultar em inúmeros sintomas que vão desde a impotência e a frigidez, passando por inibições, fetiches, perversismos, até problemas de relacionamento, escolhas de vida e tantas outras coisas. Vocês já sentiram a dimensão da palavra sexualidade?