É sempre bom poder dizer mais. Sempre há algo mais a ser dito no que se refere às questões humanas. Até porque, como dizia Lacan, a verdade não pode ser dita toda, faltam palavras. É nesse sentido que vou falar um pouco mais sobre o nome.
No domingo passado aconteceu o dia de finados. Uma data significativa sob vários aspectos. Em geral buscamos nas lápides dos túmulos os nomes daqueles que tiveram importância para nós. Isso faz pensar que o nome sobrevive ao seu dono. Ou talvez não sejamos tão donos assim do nome com o qual nos reconhecemos.
Vou deixar o Lacan (que já morreu) falar aqui acerca dessa questão. Disse ele: A cada vez, com efeito, que encontramos um esqueleto, nós o chamamos humano se ele está numa sepultura. Que razão pode haver para pôr esses restos num recinto de pedra? Já é preciso para isso que tenha sido instaurada toda uma ordem simbólica, que implica que o fato de que um senhor tenha sido o Senhor Fulano na ordem social necessita que seja indicado na pedra dos túmulos. O que fato de que ele se chamou Fulano ultrapassa em si sua existência vital. Isso não supõe nenhuma crença na imortalidade da alma, mas simplesmente que seu nome nada tem a ver com sua existência viva, ele a ultrapassa e perpetua além.
Ora, o nome faz parte da linguagem, é um conjunto de letras que se associam e produzem um sentido. Esse nome o sujeito recebeu do Outro, portanto a significação do nome pertence ao Outro. O nome próprio (será que ainda o podemos chamar assim?) ultrapassa a existência viva. Se há uma imortalidade que podemos conceber com certeza, é a da palavra, da linguagem. Será por isso que escrevemos?
Muito bem, mas receber um nome é também receber um enigma. E acho mesmo que passamos a vida tentando decifrar o enigma que o nome nos propõe. Arrisco dizer que o nome é a nossa primeira marca sexual. É com ele que transamos com o outro sexo. E o nome também é uma verdade encarnada. Verdade essa que, conforme dito no começo, é impossível dizê-la toda. Passamos a vida tentando produzir sentidos para a existência, para o nome próprio.
Assim, dizer plenamente quem somos, porque fazemos certas coisas e de determinada maneira, etc, é também impossível. O que podemos é nos aproximar cada vez mais, dizer cada vez mais e melhor.