O uso de drogas é tratado de diversas maneiras, porém pouco se fala sobre o efeito relatado pelos seus usuários. Em linhas gerais, quem consome droga diz que sente um relaxamento, que vai para um lugar sem angústias e que fica livre de pensamentos opressores.
Se centrarmos nossa atenção no alívio da angústia, vemos que o uso de uma droga é uma incorporação, ou seja, outro corpo de sensações toma o lugar do corpo da angústia. Ou pelo menos as angústias são temporariamente apagadas.
A psicanálise não observa nem escuta um toxicômano, mas um sujeito que carrega em seu corpo uma questão que só pode ser resolvida no apagar das sensações vindas dele. O resultado das drogas é um tipo de autodestruição, mas não vejamos somente essa tendência destrutiva como razão que explica a aproximação e o uso de substâncias tóxicas. Questões sexuais podem ser mais um dos tantos panos de fundo para o uso de drogas e elas dizem respeito às relações com os pais, às questões com identificação, impulsos corporais.
O uso de drogas pode ser um sintoma resultante de um processo de recalcamento, pode ser um modo de lidar com a angústia, pode ser uma fuga da realidade, pode ser uma escolha de objeto pulsional que traz uma satisfação, pode ser uma prática cultural, pode ser uma identificação aos membros de um grupo, uma conduta comum, um código partilhado e que faz sentido, pode ser uma patologia orgânica, um vício químico, pode ser um modo dramático de construir uma saída para um trauma ocorrido em alguma fase da vida.
Um objeto precisa ocupar o lugar de um vazio. Falta algo que precisa ser capaz de dar conta desse vácuo angustiante, uma substância que promova uma forma diferente de sentir a realidade. Há quem escolha outras substâncias para esse fim, nem sempre tóxicas. E é claro que há muito imaginário nesse terreno.
O importante é compreendermos o uso da droga como uma manifestação da vida psíquica. A causa do seu consumo pode não estar apenas na substância em si. Antes de alguém se tornar usuário algo o conduziu até ela. A droga seduz por prometer aliviar as angústias do ser, não há dúvida, mas é uma promessa que causa ressaca e uma droga mais forte acaba sendo exigida. Enquanto as questões da subjetividade não forem levadas em consideração e termos uma compreensão mais profunda sobre esse tema, continuaremos a presenciar, com tristeza, o que temos visto nos jornais.