Amar é dar o que não se tem. Essa é uma famosa frase do psicanalista Jacques Lacan. Como é possível dar o que não se tem? Pois bem, é isto que se trata no amor.
Apresentado o problema vamos tentar resolvê-lo. Se o que se busca no amor é uma espécie de complemento para aquilo que está faltando em si, acredita-se que está no outro esse algo inexplicável que une os amantes. Aliás, por mais que se diga o que promove o encontro de duas pessoas no amor, o fato é que ignora-se o real motivo desse encontro.
Sempre o amor se apresenta como esse sentimento inexplicável, que arrebata e não mostra exatamente quem ele é. Só que este algo buscado no outro, na realidade não está no outro porque não está em lugar nenhum. O amor é justamente a crença de que este algo existe e de que o outro o possui.
Sujeitos são marcados por um espaço interno onde nada cabe, um vazio, um buraco interior, um espaço para movimentação. É o mal-estar de estar vivo, de vivenciar o fato de que sempre algo nos faltará. O problema é que surge uma crença de que esse vazio (muitas vezes insuportável) pode ser preenchido. Promessas no mundo não faltam.
O amor torna-se uma promessa muito evidente, pois ele é a tentativa de preenchimento. O que se busca é o ser, uma tentativa de dar sentido ao vazio. O que une os amantes? Isto os ultrapassa, pouco sabem sobre o que os afeta, o amor. É o mesmo que dizer que no amor não sabemos com o que estamos lidando, o que talvez o torne tão interessante.
Lacan tem outra frase: …todo amor se sustenta numa certa relação entre dois saberes inconscientes. O amor é inconsciente, fruto da história tão particular de cada sujeito. Por isso é impossível se fazer amar. Se nem mesmo o que ama sabe do seu amor, como seria possível provocá-lo? Porém, todos falamos do amor. E o sustento do amor está justamente nessa dádiva vazia daquilo que o outro procura.
Porque como diz Lacan, dar o que se tem é a festa, não amor. No amor sempre se quer aquilo que o outro não tem, pois o amor nutre-se de esperança. Daquilo que o outro tem, faz-se a festa e não o amor. É impossível amar o outro porque ama-se na verdade algo que estaria no outro. É o lado egoísta do amor ou a face do ódio tão presente nele. E afinal, o que é este algo? Este algo buscado é a si próprio.