Se analisarmos a vida de um sujeito nas suas mais variadas formas de atuação, chegaremos à conclusão que ele sempre estará às voltas com questões referentes à sexualidade e a morte.
É até possível ir mais longe. Só existem duas questões na vida: sexualidade e morte. Isso vale para todos nós, seres humanos, falantes. A morte e a sexualidade são os dois maiores mistérios. Verdadeiros enigmas diante dos quais multiplicamos rituais, cerimônias, crenças, sepulturas, festas, etc.
A morte, sabemos que existe. Será mesmo que sabemos? Sabemos só através do outro que morre. Ela não se inscreve para o ser humano enquanto uma marca sensível. Totalmente mistério. Impossível dizê-la. A angústia é por definição um afeto que não vem acompanhado de palavras, de explicação, por isso é angústia. A morte também não vem acompanhada de explicação. Nós é que inventamos um monte de teorias, crenças e no fundo todos duvidamos daquilo em que acreditamos quando o assunto é a morte.
Esse não-saber sobre a morte acaba precipitando todas as formas de crenças e produções. Opa! As crenças são o produto dos questionamentos em relação à morte. Alguém já disse que o limite da ciência é a fé. Diante daquilo que não se inscreve, passamos a criar símbolos, sentidos para tentar acalmar o vazio que a morte provoca.
Somente o outro é que pode morrer. Só o outro morre e é isso o pouco que sabemos. Talvez por isso os defuntos causem medo. É impossível morrer. Só o outro é quem morre. Passamos a vida fugindo da representação da morte, talvez por saber que essa representação é inexistente. Apenas na fantasia e na crença consegue-se criar um mundo além vida. Porém… imaginação! Por isso criamos, produzimos, nos reproduzimos, para tentar a imortalidade. Aliás, a vida, o estar vivo, representa a perda da imortalidade. Agora tenta-se conquistá-la novamente.
É aqui que a morte se conjuga com a sexualidade. A sexualidade torna presente o fato de que se busca no outro um complemento, uma tentativa de encontro com aquilo que falta. É por aí que surge a vida. É por aí que o sobrenome se estende a mais uma geração. Ter filhos? Alguém sabe para quê? Ué, mas também não sabemos dizer o que é a morte. E o mais interessante: há o desejo. Ah, o desejo, esse incômodo movimento que nos direciona para o outro corpo, nos fazendo gerar filhos, plantar árvores, escrever livros.
Duas questões: morte e sexualidade. Seja lá o que fizermos com nossas vidas, onde estivermos, o que pensemos, as doenças que produzirmos no corpo, os relacionamentos, as produções, o estilo de vida, as escolhas, o trabalho, o prazer, tudo são coloridos diferenciais que cada um arranja para tentar dar conta destas questões: morte e sexualidade. Afinal, de onde vim e para onde vou?