O que une as pessoas no amor é o interesse de um pela mitologia do outro, ou seja, há muitas outras questões além da aparência que promovem o encontro e a formação do amor entre dois seres. Não raro o outro acaba tendo por função ocupar um lugar na formação de certos sintomas.
O problema é que muitas vezes confunde-se o amor justamente com esses sintomas. Muitos relacionamentos só se mantêm por força dos sintomas que construíram ao longo do tempo e que foram se tornando mais rígidos. Percebemos que já não há mais o amor senão uma doença intersubjetiva em funcionamento. E, apesar dos sofrimentos que essa situação acarreta, um ‘precisa’ do outro. Precisar do outro não é exatamente uma boa maneira de definir o amor. São relacionamentos marcados por uma complicada trama de problemas, envolvimentos, dívidas, cobranças, prisões, sentimentos, culpas, fazendo que permaneçam juntos em função de administrar essas questões. Os filhos são exemplos disso.
Ideais religiosos, culturais, familiares e principalmente pessoais transformam os relacionamentos em palco de guerras e lutas por certos impossíveis. É claro que a todo o momento haverá motivos para reclamar da vida. No entanto, é a ignorância do que os causa que traz o sofrimento. Observa-se a todo o momento relacionamentos transformados em verdadeiras prisões subjetivas dando margem a que diversas situações desde a chamada infidelidade até episódios agressivos- acabem aparecendo.
É preciso separar. Para isso que servem as palavras, fazem vir à tona todas essas significâncias ocultas e possibilitar a troca de falas. Afinal um diálogo só é possível entre dois sujeitos e uma distância que os separe para poderem efetuar trocas. A confusão gerada pela inclusão do outro nos seus sintomas acaba distanciando os seres. É preciso separar para aproximar.
Essa inclusão do outro nos seus sintomas também mostra o quanto o sujeito se deixa incluir no sintoma do outro. Será que é isso que se chama casal? A separação de que se trata aqui não é a separação no sentido jurídico e sim de uma outra separação, a subjetiva. O medo da solidão subjetiva, de saber-se só, confunde-se com o isolamento e termina-se por fazer toda sorte de amarrações com o outro.
A grande crise do sujeito humano não é material e sim das relações. Separar é preciso, diferenciar é preciso.