Para amar o outro é preciso amar a si próprio antes. É uma frase que pode parecer simples se não aprofundarmos o que está contida nela. O que é amar a si próprio?
Se, por um lado a palavra narcisismo está na cultura como algo a denominar um desvio, por outro lado é só a partir dele, do narcisismo, que o sujeito pode reconhecer-se enquanto estando vivo.
Amar-se envolve reconhecer-se, respeitar-se, saber que tem direitos, saber seu valor humano, defender-se, ter uma história.
É recorrente na escuta clínica ouvir dificuldades na esfera do amor. Em geral as pessoas recebem aquilo que inconscientemente pedem ao outro. Se o outro não respeita pode-se pensar que o próprio sujeito não se respeita, não pode fazer valer o respeito por também não se respeitar.
O mutismo, o não-falar, pode ser entendido aqui como uma forma do não-amor por si próprio.
É preciso amar-se sim e isso significa existir. Existir para o desejo. Existir é falar, é posicionar-se, é não calar. É preciso falar com o outro. Isso é sinal de amor. O contrário disso é acalentar o ódio. Bia de Luna escreveu: Rancor cala a alma e alma calada, cala. É esse ser calado que exprime não o amor por si próprio, mas uma espécie de ódio interno que faz o sujeito não existir.
É preci(o)so falar, é preci(o)so existir, só aí o amor pode também existir. O outro não tem condições de te amar mais do que você se ama. Há uma reciprocidade no fenômeno do amor nas mais variadas formas em que ele se apresenta. E não pensemos que se trata só do amor no sentido do enamoramento. Amar, ser amado, dar e receber são antes de tudo uma elaboração interna. Caso contrário, passa-se a vida responsabilizando o outro por não amar, por trair, por desconsiderar, por fazer sofrer.
Se pensarmos nisso, usaremos com mais relevância aquilo que é nossa melhor ferramenta de vida: a fala, a palavra.