O Setembro Amarelo acabou, mas os sofrimentos continuam

É muito importante a iniciativa do Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre causas, tratamento e prevenção a temas relacionados ao Suicídio.

Apesar disso, as questões relativas à saúde mental não devem ser uma preocupação apenas neste período. As causas dos nossos sofrimentos não tiram férias, não escolhem períodos. Sempre é tempo de estarmos atentos a este assunto.

Vamos falar sobre isso?

Sobre o tema do suicídio, é importante notar que as causas nem sempre são de fácil compreensão. Por vezes os sintomas aparentes, uma mudança no estilo de vida, uma alteração notável no estado de ânimo, uma perda significativa, nos indicam que estamos diante de alguém que sofre um drama atual e, como tal, acionamos redes de solidariedade, cuidados, preocupações, estar por perto, de forma que podemos ajudar a melhora até que o tempo e outros acontecimentos vão afastando a situação de risco.

Mas nem sempre é assim, há situações que o sofrimento não é tão evidente, não enxergamos a situação de risco. 

Desde Freud sabemos que a principal causa de sofrimento está na relação com outras pessoas, situações essas que muitas vezes geram raiva, agressividade, incompreensão, injustiça, ciúme, etc. O corpo e os estados afetivos vão emitir respostas, adoecer. O que está sendo ignorado por aquele que sofre? É importante que haja uma possibilidade de fala e escuta. 

Cada vez que acontece um suicídio estamos diante de um fenômeno que realiza um encontro dramático de várias faces da vida de um sujeito. Neste ato são convocadas as dimensões subjetivas, sociológicas, políticas, religiosas, antropológicas, todas ora concorrendo, ora somando esforços para compreender tamanha catástrofe.

Um dos fatores que podemos chamar de protetores contra a ocorrência de suicídio é o fator de integração social, do sentimento de pertencimento nos grupos, onde os dramas subjetivos podem ser partilhados e acolhidos. Vivemos um tempo cada vez mais individualista, trocamos mais informações com telas objetivas de computadores e celulares do que com pessoas. As telas não nos devolvem alteridade! Tampouco sentimento de existência. 

Sabemos, desde a Psicanálise, que uma das várias vertentes explicativas da depressão é que ela é uma reação a uma perda. No lugar onde algo se perdeu o sujeito pode reagir através do luto, mas a impossibilidade do luto realizar a elaboração pode fazer com que surja uma formação patológica.

No que se refere à prevenção ao suicídio, é preciso muito estudo e compreensão sobre esse fenômeno. Para além de estudarmos os dramas psíquicos a que podemos estar sujeitos, precisamos ter uma compreensão também sobre a dinâmica social, os paradigmas do nosso tempo, as tensões culturais.

Por exemplo, há um sentimento de vazio muito grande nos adolescentes hoje

Muitas tentativas de suicídios bem como cartas de suicidas nos dão mostra da existência de traumas longínquos na biografia daquele que tenta ou se mata. Um trauma é um acontecimento catastrófico que deixa uma quantidade de angústia não elaborada transbordando na vida psíquica. As rupturas amorosas são outro tema de enfrentamento necessário quando tratamos do suicídio. Perdendo a outra pessoa, sente como a perda de si mesmo. 

Prevenir o suicídio é possível? No mundo todo campanhas de prevenção são realizadas. A Organização Mundial da Saúde elaborou um Manual que foi traduzido e distribuído pelo mundo todo. As empresas onde o fenômeno apareceu desenvolveram campanhas para combater o avanço dos suicídios. Apesar de tudo isso, as taxas de suicídio estão num preocupante crescimento. 

Segundo o antropólogo Marc Augé em seu livro “Os Não Lugares”, o mundo contemporâneo vem impondo às mentalidades uma crise de referenciais e reconhecimento. Prevenção aqui quer dizer criar Lugares. 

Para existir não basta respirar. É preciso que o Outro me reconheça. Ações preventivas devem incentivar a fala. Mas para isso é preciso exercitar a arte da escuta. Sem escuta a fala cai num lugar infecundo, não produz seus efeitos. Escutar é levar em conta a existência do outro, de suas dificuldades, de seus limites, de suas contradições.

“É preciso tempo para entender o que o outro falou.”, nos ensina Rubem Alves em texto chamado Escutatória. E um Sujeito fala através de suas palavras, mas também através de seu silêncio, de suas escolhas, de suas paralisias, de suas enfermidades, de sua falta de palavras para expressar-se. 

Prevenção é inclusão. 

As questões acima são um pequeno panorama sobre as possibilidades de estudarmos o suicídio e a saúde mental.

Para abranger mais esses temas, convido a assistir a minha Palestra Online sobre o tema.

Nela eu desenvolvo os temas:

  • Os Não Lugares.
  • A Depressão.
  • Os Projetos de Vida,
  • A Fala.
  • O Sofrimento Psíquico.
Palestra Setembro Amarelo Acabou - YouTube - Célio Pinheiro Psicanalista e Antropólogo

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