Somos guiados por uma fala. Ainda que façamos o máximo esforço para ignorar esse fato, há um outro em cada um de nós a guiar nossas condutas, nossas escolhas, nossa vida. É uma linguagem tal qual expressa nos sonhos e que origina uma singularidade para cada sujeito. O que é preciso saber é que essa linguagem é comandada por um desejo. O desejo inconsciente que no mais das vezes não é reconhecido.
O fato mais marcante é a surpresa constante dos seres falantes diante de si próprios, pois a cada instante se confrontam com manifestações surgidas não sabem de onde. Causam estranhamento e embaraço. No mais das vezes o medo surge para dar o colorido a essa ignorância. O que são os fantasmas? Senão uma articulação da linguagem a produzir certos fenômenos. Porque os ignoramos, acabamos por projetar para o mundo exterior toda uma vida psíquica inconsciente. Os fantasmas não são entidades do mundo exterior, são, antes de tudo, a marca da divisão interna do sujeito humano. Esse sujeito que, diante do outro que esconde em si mesmo, transfere para o mundo os fantasmas que não passam de manifestações de sua vida subjetiva. Esse outro muitas vezes é odiado e a expressão desse ódio ao outro em si, se converte no ódio do outro, o semelhante. Falar do outro é falar de si próprio. Tem uma frase que diz que quando João fala de Pedro, fala mais de João do que de Pedro. Isso mostra o quanto que a ignorância de si próprio norteia os relacionamentos.
E a fala associada à escuta, revela a todo instante que o sujeito humano fala desde outro lugar, diz sempre mais do que crê estar dizendo. Outra frase: Que se diga, fica esquecido atrás daquilo que se disse, no que se ouve. (Lacan) O inconsciente é essa fala que fala em mim, para além de mim, como já disse o Freud. Portanto o sujeito diz muito mais do que consegue ouvir. É o entravamento do aparelho de escuta que nos faz surdos para as verdades internas, para a subjetividade. Uma fórmula: quanto menos o sujeito consegue escutar-se, maior será seu sofrimento na vida. Pois o sofrimento maior é o da ignorância. A psicanálise pode ajudar a aprender a escutar-se.
A grande causa dos sofrimentos humanos está nos relacionamentos e nos descaminhos da linguagem. A mesma fórmula: quanto menos o sujeito consegue escutar-se, mais problemas terá com o relacionar-se.