Apesar dos festejos de Natal, tenho notado que esse é um tempo também marcado por muitas angústias. Sinto que há uma tristeza que desperta nas pessoas nesse tempo natalino. Afinal esse é um tempo onde alguns ideais impossíveis de alcançar se tornam quase obrigatórios e de certa forma exigidos.
É um tempo onde se vende a idéia da família perfeita, aquela livre de questões, de intrigas, de diferenças, de rancores, etc, etc, etc. O pior é acreditar que esse ideal se fez realizar no vizinho ou naquela família mostrada nos comerciais que vendem seus produtos natalinos. Daí, há uma diferença muito grande entre o ideal e o real. Essa diferença é angustiante quando se deixa levar pela crença que no outro há essa paz possível de ser alcançada.
A comparação logo ganha seu lugar e aí, é claro, o sujeito vê-se na posição daquele que não conseguiu. Considera-se o infeliz diante daquele que é feliz, o azarado diante daquele que tem sorte, o pobre diante daquele que tem mais posses. Tudo ilusão! Cada sujeito tem suas questões e um modo muito particular de se posicionar diante delas. O que vemos muitas vezes é um triste encaminhamento da subjetividade humana reduzidas nas armadilhas do TER. E é claro que um reflexo disso vai também no mostrar o TER. TER PARA SER. Ser o que afinal?
São questões profundas mas gostaria de transmitir um recado em forma de questionamento para esse tempo. O final de ano traz consigo a marca de coisas que se acabam. De um tempo que se vai, de uma passagem que aumenta mais um ano na contagem do tempo. É um significante forte por lembrar que coisas acabam e, opa! também estamos incluídos nessa temporalidade. De um lado um ideal que não se pode alcançar, de outro um tempo que se marca trazendo a idéia de finitude. Será por isso que nos presenteamos nessa época e fazemos tanta festa? Para aliviar o peso que essa questão vem nos trazer? Bom, e onde é que tudo isso se relaciona com a sexualidade? Em tudo. Vamos ver.
É também pela marca da reprodução que é sexuada que a temporalidade se faz marcar para o sujeito humano pois as gerações sucessivas registram o caminhar do tempo. Nota-se um final de ciclo se marcando. Nascer é começar a morrer, alguém já disse. Natal, a palavra refere nascimento. Temos aqui envolvidos três termos: sexualidade, nascimento e morte. Ninguém passa impune e sem trazer conseqüências destes três conceitos ao longo da vida. Longe de ser esse texto uma posição desesperadora frente à vida, ele tem mais como pretensão podermos questionar nosso destino errante e aí sim podermos usufruir de parcelas possíveis de uma felicidade. Felicidade esta não calcada nos engodos.