Estar apaixonado pode ser comparado a estar doente

Depositar no outro a esperança da felicidade plena é um engano. Nas frases cotidianas como a tampa da panela, a outra metade da laranja, esconde-se algo importante, é o sonho da unidade. Do fazer um com o outro. É o sonho acalentado de que poderemos nos desfazer dessa angústia, um mal-estar causado por algo que nos falta. 

Existe o desejo e ele só é possível pelo fato de haver uma falta. Só podemos desejar aquilo que não temos, aquilo que nos falta. Essa falta nos faz buscar coisas, produz em nós uma movimentação. Se produzimos, o fazemos por tentar criar um sentido para nossa vida. Muitas vezes acreditamos que o que nos falta é um determinado objeto que pode ser alcançado. E aqui está todo o engano. Porque, se de fato pudéssemos alcançar esse objeto e fazer parar o desejo, toda pulsação e movimentos também parariam. Seria a morte. 

Casal em preto e branco se beijando

A sexualidade humana revela que ao buscar no outro esse algo que nos falta, tentamos acabar com o mal-estar. A paixão é aquele momento em que nos iludimos com a presença desse objeto. Por isso é comum a perda de interesse por outras coisas quando se está apaixonado. Logo, também é o momento em que estamos mais doentes. Freud já dizia isso. É a tentativa daquilo que disse sobre o fazer um, acreditar que com o outro poderemos constituir uma unidade. 

Nos casamentos ouvimos a frase: …de agora em diante não serão mais dois, senão um. É claro que isso não se realiza, porém, a esperança de que se torne possível acaba gerando muita decepção em relação ao parceiro. Algo assim: o outro não é aquilo que me faz feliz. Havia uma tentativa e uma esperança de se conseguir algo que é impossível. O problema é quando não conseguimos enxergar os impossíveis e acabamos achando que o outro é impotente. Tenta-se fazer o um com o outro e diante da impossibilidade coloca-se a culpa no outro. O outro é impotente. Ou ainda, o outro tem certas características que impedem minha felicidade. 1 + 1 sempre será igual a 1+ 1. Não há como fazer 1 + 1 = 1. Essa é toda a loucura presente nos relacionamentos. Se vai contra o sonho de alguns, também pode ser libertador de muitas armadilhas.

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