Hoje, tudo precisa ser organizado, esquematizado, enquadrado. Onde está o fazer diferente? Aliás, fazer a diferença. Agora e em todo lugar. Qual a graça em ser igual? É possível ser igual? O mundo das regras impõe sua forma opressora de conduzir a vida das pessoas. A exigência é justamente do ser igual, do fazer igual. Parece que sempre é necessário saber o que esperar de alguém.
É triste quando perdemos a capacidade de nos surpreendermos com o outro. Quando o outro se torna previsível, quando achamos que sabemos tudo sobre o outro, a possibilidade do diálogo se esgota. Não mais permitimos que o outro nos surpreenda. Onde há uma pobreza de palavras permeando um relacionamento, este se torna frio, insuportável.
Saber algo do outro, decidir algo pelo outro sem consultá-lo, escolher algo pelo outro, saber como o outro vai reagir diante de uma situação, tudo isso faz com que deixemos de facultar ao outro a palavra, a expressão. Quando o outro não fala, o relacionamento se torna pobre.
Que dizer da sexualidade? É também uma linguagem, é também uma forma de expressão, é também uma forma de se dizer coisas ao outro. No entanto, se a engrenagem das palavras está enferrujada, se o diálogo está comprometido, o que será da sexualidade? Também muda, sem expressão, sem vida. É fato de consultório que as pessoas sofrem por aquilo que não dizem ou que não podem dizer. E a sexualidade precisa passar pelas palavras.
Mais importante do que bombardear um sujeito com informações que logo são esquecidas, é também permitir que ele fale desde sua singularidade, desde o lugar onde algo lhe faz uma questão.
Vamos recuperar a capacidade da surpresa. Tanto de surpreendermos o outro com o fazer a diferença, quanto permitir ao outro que nos surpreenda.