Você já parou para pensar o que o compõe? Não estou me referindo a células, tecidos, órgãos e tudo o mais que faz parte do corpo humano. Refiro-me a algo mais subjetivo. O que o faz pensar, fazer escolhas, ter gostos e preferências, poder lembrar de coisas passadas. Não lhe provoca interesse o fato de ouvir o que alguém diz e você poder entender e responder? Podemos ampliar infinitamente essa lista de realizações e multiplicidade humanas. Mas, o que causa tudo isso? De onde vem essa força capaz de provocar tamanhos desdobramentos?
Responder a isso é também responder algo sobre a essência que nos constitui diferenciados de coisas inanimadas e dos animais. Esse algo que nos diferencia é a capacidade que temos de poder fazer uso da palavra. A palavra é tão poderosa que tudo o que somos devemos aos seus efeitos. A palavra constitui uma linguagem, antes, vem dela, e para o sujeito vai estruturar uma forma de ler e construir o mundo.
As palavras são necessariamente aprendidas e arquivadas e é a capacidade de uso delas que nos faz criar realidades e escrever uma história. A realidade em que vivemos é comandada pelas palavras que aprendemos a usar e reutilizar. As palavras marcam nossa existência desde muito antes de nosso nascimento. Afinal, as palavras já estavam aí antes que tivéssemos nascido.
No nascimento elas já estão prontas para nos capturarem, nos fazerem reféns de suas tramas, de sua tecedura. Somos cativos de uma rede de palavras, peixes que caem nessa rede e são selados com um destino. Alguns mudam-no, outros sequer sabem-se capturados nas armadilhas da linguagem. Acham que a vida é assim e não questionam suas existências e do quanto são efeitos das palavras que as capturaram.
No entanto, as palavras são as ferramentas capazes de fazer a névoa dissipar-se, de cair a cortina que impede a visão, afinal, somos aquilo que as palavras nos possibilitam nomear. Somos e sabemos exatamente na proporção de palavras que conseguimos adquirir e colocar em ação. Tudo isso é importante de dizer, pois a forma com que lidamos com o mundo, o modo como nos relacionamos com o outro e conosco mesmos, dependem necessariamente de que forma as palavras trabalham em nós. Tudo isso é sexualidade. Sexualidade no sentido mais amplo podemos entender como os efeitos de aprendizagem de palavras sobre o corpo. Um corpo não nomeado ou nomeado de maneira doentia ou não vai funcionar ou vai funcionar de forma a criar sintomas.
Tudo para dizer que a realidade é constituída por palavras que nos fazem abordar o mundo a partir de uma concepção e que a realidade de cada um são os efeitos que as palavras produziram no corpo.