A tal da felicidade. Em Psicanálise nós subvertemos um pouco as coisas. O que escutamos é um sujeito que reclama de suas insatisfações. E partimos de uma escuta onde se apresenta um corpo que não se satisfaz. Um corpo que continua a pedir coisas.
Por outro lado, escutamos um sujeito que ignora um fato importante: é próprio do humano ser insatisfeito. Vamos além. Não se trata de uma insatisfação, mas de um sujeito que não dá conta da subjetividade que o porta. Não agüentamos, é certo, o fato de nossa divisão interna. Achamos que somos a causa de alguma coisa e como tal queremos um domínio sobre os fenômenos que nos cercam e nos quais estamos envolvidos. Não conseguiremos.
Em vez de causa, somos efeito de uma subjetividade que se abate sobre nós. Queremos sempre a outra coisa. Aquilo que temos e alcançamos se mostra logo como não tendo sido capaz de apaziguar este desejo devorador de acabar com alguma coisa. Sabem do que estou falando? Ora, mais do que gozar de uma parcela de algo bom queremos mesmo é acabar com o desejo que nos posiciona diante do vazio daquilo que não alcançamos. Vou citar aqui o Mário Quintana:
Só o desejo inquieto
Que não passa
Faz o encanto da coisa desejada
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.
Como se vê, não é tanto o objeto que interessa, mas o movimento que impulsiona até ele. É esse movimento justamente que causa tanta angústia e sobre o qual tenta-se aplicar a inércia. O esforço é caminhar no sentido do não-movimento, do não-desejo, da morte, enfim. Se pensarmos no que acontece hoje em dia, veremos que cada vez mais os sujeitos estão imersos na crise do sem-sentido, do não-sentido, do vazio, da não construção de uma história que dê sustento para um sujeito.
Tudo é efêmero, rápido, passageiro e tem que atender ao apelo de uma demanda de consumo que traga prazer momentâneo. Tudo ilusão. Tudo loucura. Vive-se e proliferação do valor imaginário/virtual em detrimento do valor da subjetividade e do corpo, buscando-se uma satisfação impossível de ser alcançada. Sabem qual é a resposta a este estado de coisas? A Depressão.
A depressão se produzindo na Cultura como uma reação e denúncia à loucura do sem-sentido imaginário, do efêmero, do virtual. Sair disso, bom, é a possibilidade de viver com menos angústia. Para onde vamos?