Em 1993 a formatura em Psicologia. Durante a faculdade frequentei vários cursos em Escolas de Psicanálise onde teve início minha formação. Sempre leitor das obras de Freud, Lacan e outros importantes psicanalistas, participando de cursos, grupos de estudos, jornadas e cartéis. Fiz especializações acadêmicas em Psicologia Clínica e Psicanálise. Em 2023 completo 30 anos de escuta de pacientes no consultório, bem como a prática de ministrar cursos, palestrar e coordenar grupos de estudos. Em 2004 inicio Mestrado em Antropologia Social, disciplina fundamental do pensamento freudiano e base para a Psicanálise. Participei de vários projetos de saúde mental. Professor de disciplinas em cursos de pós-graduação acadêmica, bem como de supervisão clínica institucional e particular. Há mais de 20 anos coordeno a atividade Cinema e Psicanálise, com a exibição e análise de filmes. 

Todas essas atividades podem ser melhor exploradas no meu currículo Lattes.

PSICANÁLISE 

Freud, um neurologista, se depara com os fenômenos da linguagem quando escuta os pacientes que lhe procuram com doenças no corpo. A palavra alivia a dor. Com Charcot e Breuer aprende mais sobre a histeria e os mistérios da vida psíquica. Surge a catarse, a revelação dos sentidos dos sonhos, os sintomas têm um sentido a ser desvendado.

“… nossa experiência diária mais pessoal nos tem familiarizado com ideias que assomam à nossa mente vindas não sabemos de onde e com conclusões intelectuais que alcançamos não sabemos como. ” (Freud)

O inconsciente vai sendo descoberto e com ele os grandes casos clínicos, as teorias sobre o trauma e as fantasias, surge a associação livre. É desvendada a tríade angústia, sexualidade e recalque. Descobre os modos de escapar à censura, os lapsos, atos que falham, sonhos, sintomas, todos eles produções do inconsciente. A pulsão e o narcisismo são trazidos à tona, mostrando ainda mais a complexidade da vida psíquica e suas diferentes localidades: id, ego, superego. E da relação entre eles, os funcionamentos das defesas e das identificações com o outro. Conflitos e complexos são trazidos à compreensão. Freud se utiliza da mitologia, da antropologia e da literatura para demonstrar a Psicanálise.

Com Lacan o inconsciente ganha um estatuto, a linguagem é seu paradigma e modelo, o significante ganha destaque, tudo é linguagem, metáfora e deslizamento. O gozo e a angústia são renomeados e uma nova clínica nos ensinou outros caminhos para a condução das análises.

Aa partir de Lacan outros mestres nos ensinam e nos juntamos a eles na continuidade da construção da Psicanálise, sempre renovada, um pé atrás do sujeito da cultura sempre em transformação. 

TEORIA E CLÍNICA

O pressuposto fundamental consiste no saber sobre os processos inconscientes, que constituem um lugar, e esse lugar, segundo Lacan, são os monumentos, o corpo, os arquivos, as memórias, o modo de falar, as tradições, os vestígios de uma história. É disso que nos ocupamos na análise, de trazer às palavras a verdade, os modos de funcionar de um sujeito, razão de seu sintoma. 

A fala revela a verdade do sujeito. Os sofrimentos, a angústia, seus sintomas, suas escolhas, as repetições, o gozo, mas também o desejo, o prazer, são formas de a linguagem expressar os modos de arranjo da estrutura do inconsciente.

Desde Freud a escuta clínica precisa acompanhar as transformações culturais. A cada época o inconsciente produz modos de defesa novos e com eles podem surgir patologias e sofrimentos.

“Afirmamos, quanto a nós, que a técnica não pode ser compreendida nem corretamente aplicada, quando se desconhece os conceitos que a fundamentam. ” (Lacan)

A Clínica da Psicanálise só é possível com a formação sempre prolongada e nunca acabada do analista, passando pela história dos textos clássicos e a escuta atenta dos contemporâneos. 

Hoje escutamos cada vez mais as incapacidades decorrentes da depressão e da melancolia, o vazio de sentido e suas produções sintomáticas. Continuamos a escutar a relação Sujeito-Gozo, agora nas modalidades do supereu, do sacrifício, da complicada existência do Desejo, das faces do masoquismo, das inibições, das culpas e impotências na base das patologias. 

Para tanto faz-se necessário o diálogo da Psicanálise com outras ciências para a compreensão e tratamento dos suicidas, das violências, do uso de drogas, da psicossomática.

 “Assim, eis a clínica psicanalítica como uma história das errâncias do gozo, de suas “fixações”, de suas “regressões”, de sua transformação em sintomas, de sua “introversão” sobre fantasmas, essas formações imaginarias que substituem a ação no exterior e que são “reservas naturais” do gozo. No fantasma o gozo é assubjetivo, manifesta-se em sintomas, em repressões histéricas, em formações reativas obsessivas, em distanciamentos e precauções fóbicas, em invasões irrefreáveis que determinam a ruptura psicótica com a realidade exterior, em coagulações que se encenam na perversão. ” (Néstor Braunstein)

“O sofrimento, transformado em pergunta feita ao Outro, é o fundamento que torna possível uma análise. ” (Néstor Brausntein)

“O inconsciente é a soma dos efeitos da fala sobre um sujeito…” (Lacan)

“Muitos analisandos vêm por causa desse tumulto que escapa à razão e ao entendimento. Para não se sentirem sozinhos. ” (Radmila Zygouris)

“Apenas a dor assinala para alguns seu espaço interior. ” (Radmila Zygouris)

E, com Lacan, concordo que “… para manejar qualquer conceito freudiano, a leitura de Freud não pode ser tida como supérflua. ” (Lacan)

PSICANÁLISE E ANTROPOLOGIA

As obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan são constantemente marcadas por referências antropológicas que dão base aos conceitos da Psicanálise.

Psicanálise e Antropologia privilegiam a fala, as tramas do discurso e as relações entre significante e significado. A clínica da Psicanálise, a clínica do Real, não pode prescindir do estudo dessa estrutura, fato esse revelado pela urgência com que a escuta clínica tem pressionado os remanejamentos conceituais no campo psicanalítico. 

Um conhecimento mais aprofundado do campo psicanalítico requer o estudo da Antropologia em suas trilhas históricas e conceituais. Por seu objeto e suas singularidades metodológicas, a Antropologia referencia uma escuta clínica que possibilita uma melhor compreensão do sujeito na sua relação com o Outro. 

Realizado esse percurso, pode-se compreender melhor questões e imposições culturais, tais como: o amor e a sexualidade; as novas formas de organização do parentesco; a significação da morte; os fenômenos religiosos; a medicalização bem como o uso de drogas; as relações de trabalho como fator de adoecimento psíquico; as representações do corpo; as várias formas de violência…

O estudo dos principais autores e obras antropológicas e psicanalíticas permitem comparações de práticas sociais realizadas por sujeitos de diferentes culturas: modos de toca, casamentos, funerais, festas, instituições, rituais. Desde antes do nascer, até a morte e mesmo depois dela, o sujeito reproduz modos culturais ao passo em que nela também produz transformações. Eis o inconsciente, conceito legado da Antropologia para a Psicanálise, fundamental a ambas. No privilégio que dão à linguagem, seja pela palavra escrita, pelas tramas dos discursos, verbal, gestual, pictórica, ou atuada, tanto uma ciência como a outra privilegiam a busca das relações entre significantes e os significados. 

“Separar-se da família torna-se uma tarefa com que todo jovem se defronta, e a sociedade frequentemente o auxilia na solução disso através dos ritos de puberdade e de iniciação.” (Freud)

SUPERVISÃO

Espaço ético, pilar da formação, falar ao outro sobre sua experiência de escutar.

Lugar de questionar o desejo do analista e onde esse desejo precisa ser posto de lado, de escutar os entraves à escuta do Outro.

“…toda análise didática tem a obrigação de analisar os motivos que fizeram o candidato escolher a carreira de analista.” (Lacan)

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