No texto Linguagem do Corpo, acompanhamos um dia na vida de Maria. Vamos levantar algumas questões referindo-se a ela. Por mais que Maria seja uma personagem inventada podemos pensar que não é tanto assim, ou seja, alguns acontecimentos são vivenciados pela maioria das pessoas.
Estamos sempre falando do corpo, estamos reclamando do corpo. Estamos sempre falando com o corpo, através dele. Acontece que as percepções que chegam ao corpo nem sempre são processadas por nossa consciência. Ou seja, nem tudo aquilo que percebemos e registramos em nosso psiquismo damos conta de processar através da consciência. Maria está descrevendo a forma que a sexualidade se constitui em seu corpo sem perceber que está fazendo isso. Ela está falando com seu corpo. São tantas as mensagens emitidas e captadas pelo outro.
O problema é que nem sempre o outro consegue fazer uma leitura real daquilo que o corpo fala. Se nem mesmo aquele que expressa consegue enxergar-se, escutar-se, observar-se, menos ainda o outro poderá entender e decifrar as mensagens que recebe.
A sexualidade humana é tão complexa por ser efeito da linguagem inconsciente. O corpo surge aqui tal como o encontramos nas fantasias ou nos delírios, como o grande livro em que se inscreve a possibilidade do prazer, onde se oculta o impossível saber sobre o sexo (Lacan).
Isso é estranho! O impossível saber sobre o sexo. Mas é o que constatamos a todo instante: sujeitos discordantes em relação ao corpo. Próprio corpo? Ou será o corpo esse conjunto de letras que formam uma linguagem estranha para o ser falante? Dizemos com freqüência: meu corpo isso, meu corpo aquilo, meu próprio corpo. Será que alguém tem a posse desse corpo? Se tivéssemos o conheceríamos poderíamos controlar as manifestações, as angústias que dele se originam.
O corpo segue seu ritmo e nós nos perdemos por não conseguirmos alcançá-lo e compreendê-lo. Querem uma prova disso? A nossa personagem Maria. Ela fala, reclama, sente dores, tem lembranças, crises, tosse, se adorna, sente tesão, tem prazeres. Enfim, ela está viva e segue sua vida ignorando o que causa as características acima. Trata-se da linguagem do inconsciente. Trata-se de um sujeito inconsciente. O outro em nós.