Há uma diferença muito grande entre autoconfiança e autoestima.
A autoconfiança vem de dentro, de uma história de vida marcada por relações suficientes, que valorizaram e reconheceram um bebê desde o nascimento, passando pelas diferentes fases, inclui palavras, ensinamentos, tempos de espera, alguma frustração, aprendizados, amor.
Já a autoestima vem de fora, é feita do olhar do outro e da avaliação do outro, de um outro preocupado em construir um narcisismo perfeito, uma imagem perfeita de seu rebento, dependente do retorno positivo sobre a imagem. Investir demais na imagem em detrimento das palavras e da história pode gerar sujeitos cuja afetação na imagem corporal seja sentido de forma muito mais sofrida e periclitante. Por debaixo da imagem tem o que mesmo?
Em alguns casos de câncer de mama será necessária uma cirurgia. A mastectomia poderá afetar muito uma mulher. As variações dessa afetação podem vir em relação à idade, ao grau de investimento dos seios na economia psíquica e sexual, na autoestima.
A medicina como seus instrumentos cortantes vão atuar no corpo da mulher e na sua imagem corporal. Como já escrito, temos o corpo Real, Simbólico e Imaginário. Qual corpo será afetado por uma cirurgia? Que reações a intervenção médica vai produzir?
Em alguns casos, a feminilidade em sua forma visual é que vai sofrer a afetação. Em outros, a angústia poderá vir da forma do corpo mutilado, que evoca fantasias muito antigas. Em outros ainda, a afetação virá dos pensamentos associados a um corpo doente, que culpas fazem ter que passar por isso?
Essas dimensões do sofrimento precisam ser escutadas, é possível um trabalho clínico com uma escuta atenta para diminuir esses sofrimentos trazendo melhores formas de compreensão sobre o corpo, a vida psíquica e os estados afetivos e como uma doença poderá ser melhor tratada.
Um corpo precisará ser reconstruído após um processo de adoecimento pelo câncer e essa reconstrução precisa de palavras e escuta. A autoconfiança e a autoestima precisarão ser analisadas. A função do olhar, afetada de forma dramática em pacientes que sofreram cirurgias, precisará ganhar outros contornos, junto com outras falas, olhares acompanhados de apoio.
Convite Especial
Por ocasião do Outubro Rosa, escolhi um filme muito especial para a ocasião.
Aquarius (2016) conta a história de Clara, uma sobrevivente do Câncer de Mama que enfrenta diversos desafios relacionados ao seu corpo, seus relacionamentos e suas convicções.
Assista ao filme e depois participe do debate no evento abaixo.