Uma aparente liberdade social no que diz respeito à sexualidade esconde o fato de que cada vez mais surgem sofrimentos da vida contemporânea.
Os relacionamentos estão passando por uma crise terrível. Em vez de serem construídos, cuidados, hoje espera-se que tudo aconteça muito rápido e aquele tempo provocativo do desejo está mais raro. É claro que vão haver conseqüências e uma delas é que serão requisitados os auxiliares do prazer. As diversas substâncias que prometem melhor desempenho sexual que têm tido ampla cobertura dos meios de comunicação.
O engano dos tempos modernos, onde acredita-se que as informações são efetivas apenas por estarem disponíveis, faz com que não se tenha tanto cuidado com os relacionamentos. O aprendizado verdadeiro só vai ocorrer diante do encontro e das trocas que se faz com o outro. Se o relacionamento está marcado pela descontinuidade e pela efemeridade, por certo a vivência da sexualidade está comprometida.
O importante de se notar é o seguinte: a crise está nos relacionamentos e não na sexualidade propriamente dita. Buscam-se substâncias para dar conta dos problemas da sexualidade genital e desconsidera-se o fato de que são os relacionamentos que estão enfermos.
O pior é que essas drogas acabam por se tornar uma necessidade sem a qual o sujeito sente-se desamparado, inseguro. Este tem sido o relato de muitos jovens onde a preocupação primeira antes de sair de casa é como conseguir os coquetéis ou as pílulas que garantem o prazer.
A vivência da sexualidade genital ficou condicionada ao uso prévio de substâncias. Que cena estranha a necessidade de usar uma substância para poder obter respostas do corpo. Quanto distanciamento de si próprio e quão comprometidos estão os relacionamentos!
Fico impressionado quando as pessoas se enchem de orgulho diante do que chamam de progresso e saem a desfilar os produtos da evolução humana. Onde é que está o progresso nesse panorama em que mais e mais os relacionamentos são causadores de angústia e a sexualidade precisa ser empurrada com substâncias químicas? Quão artificiais estamos nos tornando! Afinal, alguém vai reagir?
