Há muitas tentativas e os meios de comunicação são pródigos nisso, de se ensinar a fazer o amor, a construir a sexualidade das pessoas. Mas será que é possível ensinar? Aprender é possível, mas não pelas vias absurdas que tentam nos ensinar. Apregoa-se por aí a possibilidade de uma sexualidade feliz, livre de questões, desconsiderando os fatores subjetivos que estão envolvidos. O problema é que, por não alcançar essas metas de felicidade, surge a culpa. Por vezes sente-se a culpa e em outras culpa-se o outro. É preciso falar mais, aproximar-se de uma linguagem inconsciente e reveladora de cada um. De tanto tentar falar a mesma língua com o outro, acaba-se distanciando do si próprio, ignorando seu ser, sua verdade.
Cada um fala sua própria língua, sua língua inconsciente. A linguagem é uma elucubração sobre essa língua fundamental. Isso produz várias conseqüências. A primeira é que a comunicação se torna impossível. Ao outro só podemos informar e não comunicar, porque os signos que compõem essa língua individual são tão particulares que não encontram correspondência com o outro. Por isso criamos códigos, signos, convenções sociais para tornar possível viver com os outros e efetuar algumas trocas. No fundo, todos sabemos disso. É a dimensão da solidão do ser humano, por saber-se diferente do outro. Promover a fusão de duas línguas fundamentais é impossível.
Apliquemos tudo isso à sexualidade, que antes de tudo é uma linguagem. Esse sentimento de exílio em relação à sexualidade é o que há de mais verdadeiro e notável. Por isso precisamos do outro sexo para tentar uma correspondência, um comum em relação à sexualidade. Aliás, o uso da palavra relação é interessante: sugere um laço partido e a tentativa de fazer um lação em seu lugar. Um laço bem grande para suprir um mítico laço rompido. Por isso brigamos tanto, pois essa tentativa de que o outro nos compreenda, que falemos a mesma língua, que sejamos um, tudo isso se estatela a cada instante pois não conseguimos escutar o outro, não entendemos que ele fala sua própria língua e que sua briga é mais interna. Guerreamos por não alcançarmos o impossível.
Há também o corpo a falar. Ele fala através de condutas, gestos, dores, espasmo, euforias, sintomas, prazeres etc. É também uma linguagem, e uma linguagem sexual. Tem uma frase do psicanalista Jacques Lacan que diz assim: Falo com o meu corpo, e isto, sem saber. Digo, portanto, sempre mais do que sei… O que fala sem saber me faz eu, sujeito do verbo. Na psicanálise a escuta é justamente daquilo que o sujeito não ouve ao dizer, posto que ignora sua língua fundamental.
Quem tem ouvidos…