Adulto ou amnésia Infantil?

Onde está o adulto? O que quer dizer essa palavra? A dificuldade em responder essa questão mostra o distanciamento criado em relação à infância. Vou citar uma frase: “Somente alguém que possa sondar as mentes das crianças será capaz de educá-las e nós, pessoas adultas, não podemos entender as crianças porque não mais entendemos a nossa própria infância. Nossa amnésia infantil prova que nos tornamos estranhos à nossa infância. ” (Freud). A amnésia infantil é o ponto que quero aqui ressaltar. Parece ser essa a chave para compreender uma série de coisas tais como: 

– nossa dificuldade no trato com as crianças 

– nosso embaraço diante das perguntas infantis 

– os problemas com a sexualidade encontrados nos adultos

menino andando trilhos pai observa

A palavra ‘adulto’ esconde verdadeiramente a criança com suas angústias, dificuldades, questões não resolvidas. Colocar uma etiqueta chamada adulto parece resolver muitas questões difíceis da infância. Porém, o que vemos é que os ditos adultos lidam com suas vidas, suas emoções, seus afetos, seus relacionamentos e suas questões justamente de forma infantil. A infância nos parece tão reveladora pois constatamos que em nenhum outro período ‘reagíamos com vivacidade frente às impressões, sabíamos expressar dor e alegria de maneira humana, mostrávamos amor, ciúme e outras paixões que então nos agitavam violentamente, e até formulávamos frases que eram registradas pelos adultos como uma boa prova de discernimento e de uma capacidade incipiente de julgamento. E de tudo isso, quando adultos, nada sabemos por nós mesmos’. (Freud)

Todas essas experiências foram determinantes para a constituição do sujeito e continuam vivas no inconsciente, porém não podem ser reconhecidas por questões de ordem cultural, social, religiosa, familiar, etc. Ou melhor, não podem ser reconhecidas porque criou-se uma abstração chamada adulto, cuja seriedade não lhe permite reconhecer que brincar é bom. Logo, o adulto é sério. O fato é que o afastamento da infância vai comprometendo a capacidade perceptiva, a liberdade, a espontaneidade, as verdades sobre o corpo e a sexualidade, a sinceridade… 

A clínica mostra que os sujeitos humanos constituem sintomas e sofrimentos cuja base está no esquecimento das vivências da infância. E essa criança esquecida vai se manifestar de outras formas. Nas escolhas, nos relacionamentos, no estilo de vida. E já que estamos em tempos de guerra… sabem aqueles jogos de tabuleiro, de conquistar território…? Alguma diferença com o que vemos hoje? Só mudou o tabuleiro que hoje é o mundo, mas trata-se dos meninos brincando com suas agressividades. Assim é que é.

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