O corpo é sexual, todo ele marcado por zonas de prazer, o que em Psicanálise chamamos de zonas erógenas. Marcas constituintes da vida sexual, cada corpo humano singular em sua constituição.
Somos marcados por desejos e faltas que nos direcionam a outro corpo para a tentativa de realizar ou de reencontrar um prazer faltante. Para isso usamos nosso corpo, os impulsos vindos e surgidos do corpo, nos direcionam para esse reencontro. E acreditamos que a imagem do corpo, seus atributos, suas roupagens, suas insinuações farão atrair outro corpo, claro, outra subjetividade. E por aí se constroem as trajetórias sexuais, os relacionamentos, os casamentos e a manutenção da vida desejante/desejada/o.
O surgimento de uma doença que pode resultar numa ‘mutilação’ de parte do corpo e neste caso, no seio (ou mama), poderá afetar profundamente a lógica acima exposta. Uma marca no corpo poderá fazer a mulher sentir que seu encanto acabou. Poderá fazê-la sentir-se não mais desejada. Poderá criar uma inibição da função sexual por conta do corte da imagem corporal. Isso acontece sempre? Não. É importante incluir a presença do outro da relação, quando existe, o marido, o/a namorado/a, a esposa que terá função significativa nos rumos da vida sexual.
Mas é preciso que se fale sobre a vida sexual das pacientes com câncer de mama, pois muitas delas acabam por ver na doença, no tratamento e na cirurgia, uma interrupção definitiva na vida sexual, no prazer, perdendo com isso parte importante de sua vida, da alegria, do entusiasmo.
É importante poder indicar um trabalho de escuta que envolta também a pessoa do marido, da esposa, da parceria de vida conjugal no tratamento, tanto pela ajuda que pode oferecer à paciente quanto pela ajuda que precisa receber diante da nova realidade de sua parceira.
Um novo corpo, um corpo reconfigurado, com uma nova marca, mas também um corpo renascido, sobrevivente e pulsional, poderá ressurgir após essa trajetória.
Convite Especial
Por ocasião do Outubro Rosa, escolhi um filme muito especial para a ocasião.
Aquarius (2016) conta a história de Clara, uma sobrevivente do Câncer de Mama que enfrenta diversos desafios relacionados ao seu corpo, seus relacionamentos e suas convicções.
Assista ao filme e depois participe do debate no evento abaixo.