A etimologia da palavra paixão remete a pathos, doença, afetação. As paixões são em número de três: amor, ódio e ignorância.
É interessante descortinar esses três aspectos da paixão: paixão na forma de amor, paixão na forma de ódio e paixão pela ignorância. O filósofo Kant também dedicou-se a pesquisar a paixão e escreveu algumas coisas interessantes como, por exemplo, que a paixão exclui o domínio de si mesmo, impede ou torna impossível que a vontade se determine com base em princípios. Diz ainda que ela tem capacidade de dominar todo o comportamento do homem, de apoderar-se de sua personalidade e que poderá fazer de tudo para alcançar seu fim, ainda que possa ser violenta. Ele salienta que a paixão é uma doença por intoxicação ou deformação, que precisa de um médico interno ou externo da alma, o qual, todavia, não sabe em geral prescrever uma cura radical, mas, quase sempre, só paliativos.
A frase do psicanalista francês Jacques Lacan: A relação sexual não existe, diz da impossibilidade do laço (re-lação) entre dois sujeitos. Cada sujeito terá um corpo marcado de forma absolutamente particular e as letras que constituem o corpo não encontram um correspondente igual no outro. Além disso, há que se levar em conta a trajetória biográfica e principalmente histórica de cada sujeito, o que é trazido para um relacionamento.
A pretensão do encontro de uma igualdade no outro (1+1=1) é que causa tantos problemas no que se refere ao amor. Pois, dada à impossibilidade desse encontro igualitário, surgem as tão conhecidas brigas amorosas. A paixão é uma forma imaginária de dar conta dessas diferenças, formando uma casca ilusória de sentimentos e desconsiderando as diferenças.
O psicanalista Jacques Leclaire escreveu que ‘a relação pseudoamorosa ou amorosa comum, entre dois eus você e eu é uma relação em espelho, com um outro que não é um outro, mas um mesmo. Um outro é alguém que fala outra língua porque tem outra história e outra mitologia. Tem outras representações de suas moções pulsionais e elas estão organizadas de outra forma. Por moções pulsionais entendamos as formas de constituição do corpo enquanto zonas de prazer e os caminhos que elas derivam para a obtenção desse prazer. Logo, toda paixão é uma paixão por si próprio que desconsidera a qualidade do outro. ’
A relação sexual não existe quer dizer que dois seres não farão o um e que seus corpos não se fundirão um no outro. Isso abre a possibilidade de uma vivência de prazer corporal parcial sem a pretensão da impossível totalidade, logo, com menos angústia.