A depressão é uma forma de reação a uma perda inconsciente

Já faz algum tempo que estamos ouvindo que a depressão é a doença do momento, o mal do século e outras coisas. A depressão é um quadro clinico que afeta o sujeito, causando sofrimento nele e nos que estão à sua volta. Sentem-se incapacitadas para amar, desinteressadas pelas coisas do mundo e pela realidade ao seu redor. Consideram-se pobres e mesquinhas, inibidas para a realização de atividades, sempre à espera de uma punição, além de apresentarem diminuição do apetite, desinteresse sexual, distúrbios do sono ou agressividade, entre outras manifestações. Vale dizer que qualquer pessoa poderá apresentar um quadro depressivo em algum momento da vida. E o que nos diz a depressão?

Se escutarmos uma pessoa depressiva não será muito difícil perceber que, na luta por explicar seus sofrimentos, ela falará de um vazio, da falta de alguma coisa, sem, no entanto, conseguir dizer o que é. Isso porque a depressão é uma forma de reação a uma perda. Digo uma forma porque há outras maneiras de reagir diante de “perdas”; coloco entre aspas porque muito do que se acredita possuir e perder, na verdade ela sequer poderia requerer para si. O luto é uma destas outras formas. Pode ocorrer que num determinado momento de sua vida alguém não possa realizar um trabalho de luto ou elaborar algum acontecimento e acabam reagindo diante de tais fatos produzindo uma depressão. Notaram a palavra produzindo? Isso porque elas participam da criação deste quadro chamado depressivo. O que ocorre então?

A depressão é uma forma de reação a uma perda inconsciente

Apesar de tentarmos aqui simplificar, o processo é muito complexo e nem tão linear. Por isso a necessidade de se realizar esse trabalho com um profissional. Voltemos a palavra “perda”. O fato de não conseguir dizer a causa de seu sofrimento, apenas vivenciá-lo, é porque essa perda é inconsciente. Pode até ser que ele saiba de algo que efetivamente perdeu, mas nesse “algo” está contido algum elemento que, de alguma forma, tinha uma importância muito grande e isso ele não consegue perceber. Por exemplo: um sujeito perdeu seu emprego e logo em seguida sobreveio uma depressão. Enquanto tudo indicava que a depressão era decorrência desta perda, ele, após um trabalho de análise, percebe que o que foi significativo não foi o trabalho em si, mas o afastamento – a perda – da convivência com uma determinada pessoa que lhe ouvia e reconhecia seu trabalho. Assim, enquanto não percebeu isso, só conseguiu sofrer e falar num grande vazio que sentia. A perda era de um elemento que, de alguma forma, o sustentava, conferia um lugar, um reconhecimento, uma segurança. Em casos de morte ou separação, ele sabe quem perdeu, mas não sabe o que perdeu nesse alguém. Isso é sentido como uma perda de si próprio, gerando muita angústia e agressividade que acabam se voltando contra a si mesmo. É como se a pessoa exercesse uma vingança, ou seja, aquilo que poderia fazer contra aquele que o abandonou ele acaba fazendo em si próprio. As ideias acima foram tiradas do texto de Freud chamado Luto e Melancolia. Estes estados de sofrimento do mundo contemporâneo são quadros complexo, por isso precisa de uma escuta que alcance essa complexidade

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